O que aqui
referi é particularmente negativo quando ataca jornalistas. Fazer jornalismo é,
entre o mais, prestar toda a informação sobre determinado evento que deva ser
considerada relevante à luz do interesse da generalidade do público, sem
omissões.
Por exemplo, quando se noticia a
ocorrência de um crime, o público não quererá, certamente, conhecer a cor das
calças do seu suposto autor, ou se ele tem mau hálito. São factos obviamente
irrelevantes.
Todavia, o mesmo não acontece com a
identidade, as características pessoais (sexo, idade, nacionalidade, origem) e
o enquadramento social do autor do crime (se trabalha, qual a sua profissão, se
tem antecedentes criminais e/ou é conhecido pela prática habitual de factos
semelhantes, se se encontra em liberdade condicional, se é toxicodependente),
bem como o que o terá motivado a actuar daquela maneira e o contexto em que os
factos ocorreram. No fundo, os elementos que respondem às perguntas básicas: quem,
onde, como e porquê. Trata-se de elementos essenciais de uma notícia, que o
público tem o direito de saber e o jornalista o dever de investigar e comunicar,
sob pena de não estar a fazer jornalismo, mas outra coisa qualquer.
Em alguns crimes, poderá ser essencial,
para a apreensão de todos os traços relevantes da situação, saber, por exemplo,
se o autor do crime ocupa determinado cargo público ou privado, se pertence a
determinado grupo social ou religioso, se integra determinada associação ou
movimento político. Tivemos, recentemente, um exemplo disso.
Desde que Portugal vive em democracia, era com toda a naturalidade que os jornais, ao noticiarem a prática de crimes, forneciam, em toda a medida do que conseguissem apurar, os elementos acima referidos. O mesmo faziam os canais de televisão a partir do momento em que também passaram a noticiar, com frequência cada vez maior, a prática de crimes. Pelo seu lado, o público recebia essas notícias com igual naturalidade, sem que, tanto quanto me recordo, alguma vez tenha havido qualquer problema decorrente de lhe ser proporcionada informação completa.
Até que, um belo dia, o Estado resolveu
intrometer-se. Havia demasiada liberdade de informar, não podia ser. Estávamos
em 2007, tempo de muito má memória para a democracia em Portugal. Escreverei
sobre isso em próxima mensagem.