Ontem de manhã, evadiram-se do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, classificado como de alta segurança, 5 reclusos, 4 dos quais considerados muito perigosos. Saltaram o muro e foram às vidas deles, sem oposição e sem serem, sequer, detectados por quem os guardava.
A comunicação social não
fala de outra coisa desde que a fuga foi conhecida. Subitamente, toda a gente
acordou para o facto de as prisões, à semelhança da generalidade dos restantes
sectores do Estado Português, se encontrarem numa situação de ruptura.
Sobrelotadas, em péssimas condições, com um número insuficiente de guardas
prisionais e com graves falhas de segurança.
Os problemas do sistema
prisional não são de hoje, nem do último ano, nem sequer dos últimos 10 anos.
Nos últimos 50 anos, o sistema prisional tem sido, pura e simplesmente, desprezado
pelos sucessivos governos. O país vive de costas voltadas para as suas prisões,
fingindo que elas não existem, e só se lembra delas quando ocorre uma evasão
mais aparatosa, como a de ontem, ou quando algum cidadão mais ilustre é preso.
O mesmo tem feito o poder político, que, em vez de enfrentar os inúmeros
problemas existentes, se limita a «gerir
a crise», empurrando os problemas com a barriga. É assim há 50 anos, repito.
Enfim, pode ser que seja
desta que o país acorde para a gravíssima situação das nossas prisões.
Plagiando o «Manifesto dos 50», que
obviamente se concentra em questões mais selectas que a do sistema prisional,
pode ser que se verifique um «sobressalto
cívico» que leve o Estado Português a, 50 anos depois, voltar a cuidar das
suas prisões.