2006-09-03

Coisas estúpidas

De vez em quando, sou acometido por uma irreprimível vontade de escrever sobre coisas estúpidas.
Trata-se, tenho de reconhecer, de uma fraqueza minha. Com tantos temas judiciários de altíssimo coturno (como, com imensa graça, dizia, a brincar, um magistrado do Ministério Público que, infelizmente, não vejo há muitos anos) sobre os quais poderia «blogar» neste domingo, logo havia de me dar para isto…
Enfim, cada um é para o que nasce.
Vamos ao assunto.
E nada melhor do que começar por duas fotografias (frente e verso) desse mesmo assunto:



Para quem não seja servidor do Estado, fica a explicação – o impresso que aparece no retrato tem o pomposo nome de «BOLETIM ITINERÁRIO».

Trata-se, em minha opinião, do impresso mais estúpido, inútil, arcaico e irritante que existe – embora admita prova de que há pior, pois a concorrência é feroz.

Servidor do Estado – juízes incluídos – que se desloque em serviço, tem de o preencher à mão, com letra miudinha, por ali abaixo, frente e verso, repetindo, linha a linha, palavras e valores que, com um computador, escreveria num centésimo do tempo.

No meu caso, como me desloco muito em serviço, lá tenho, todos os meses, impresso após impresso, mês após mês, ano após ano, de preencher o dito «boletim» à mão, a dizer sempre a mesma coisa: no dia tal, deslocação à comarca x, para o julgamento do processo y, foram tantos km, a tanto o km, dá o valor z…

E têm de ser 2 boletins itinerários por mês, um para serviço de colectivo e outro para singular, pois os departamentos estatais que efectuam o reembolso das despesas – tarde e a más horas no caso de um deles, diga-se de passagem – são diferentes, por razões que não compreendo, nem pretendo que me expliquem, pois estou seguro de que continuaria a não compreender.

Que diabo, não poderia o «choque tecnológico» atingir os boletins itinerários rápida, violentamente e em cheio, desintegrando-os, calcinando-os ou, no mínimo, projectando-os para longe?

Ao menos, tornem o preenchimento do impresso facultativo, permitindo a sua substituição por documento que possa ser elaborado em computador!

Pronto, já satisfiz a minha vontade de escrever sobre uma coisa estúpida neste domingo.

Ao leitor que tiver conseguido chegar ao fim, o meu muito obrigado.

Post inserido no blog DIZPOSITIVO