A jornalista Sandra
Felgueiras entrevistou Tiago Cacais, o infortunado condutor de um autocarro da
Carris a quem um grupo de indivíduos infligiu, segundo ele intencionalmente, graves
e irreversíveis queimaduras durante os motins que se verificaram na zona da
Grande Lisboa no final de Outubro.
Sandra Felgueiras fez-lhe a
pergunta que se impunha. Aquela que poucos colegas dela teriam coragem para
fazer. Transcrevo essa parte da entrevista:
Condutor: (…) Eu só fazia uma pergunta:
Mas porquê eu? Porquê a mim? Porque é que não me deixaram sair do autocarro?
Sandra Felgueiras: E qual é a resposta
que dá a si próprio?
Condutor: Não tenho resposta. Ou é por
ser branco… porque os meus colegas, no Bairro do Zambujal, foram convidados a
sair do autocarro. E eram de cor. E eu era branco.
Independentemente de qual
seja a convicção do condutor do autocarro, estamos perante um facto objectivo:
no decurso dos motins, vários autocarros foram incendiados por grupos de
indivíduos «negros», como retaliação
pela morte de Odair Moniz; a todos os condutores desses autocarros foi
permitido abandoná-los em segurança, com excepção de Tiago Cacais, que foi, segundo diz, queimado intencionalmente; Tiago Cacais é «branco»
e os restantes condutores são «negros».
Decorreram cerca de quinze
dias desde a transmissão da entrevista na TVI.
Os profissionais do «anti-racismo» não tomaram posição, nem fizeram
qualquer manifestação. Os políticos que costumam cavalgar a onda do «anti-racismo», também não. Em flagrante
contraste com o alarido que fizeram aquando da morte de Odair Moniz, ficaram,
agora, caladinhos, como nesta ocasião.
Enfim, são as intermitências de que aqui
falei.