2024-12-10

«Anti-racismo» de sentido único


A jornalista Sandra Felgueiras entrevistou Tiago Cacais, o infortunado condutor de um autocarro da Carris a quem um grupo de indivíduos infligiu, segundo ele intencionalmente, graves e irreversíveis queimaduras durante os motins que se verificaram na zona da Grande Lisboa no final de Outubro.

Sandra Felgueiras fez-lhe a pergunta que se impunha. Aquela que poucos colegas dela teriam coragem para fazer. Transcrevo essa parte da entrevista:

Condutor: (…) Eu só fazia uma pergunta: Mas porquê eu? Porquê a mim? Porque é que não me deixaram sair do autocarro?

Sandra Felgueiras: E qual é a resposta que dá a si próprio?

Condutor: Não tenho resposta. Ou é por ser branco… porque os meus colegas, no Bairro do Zambujal, foram convidados a sair do autocarro. E eram de cor. E eu era branco.

Independentemente de qual seja a convicção do condutor do autocarro, estamos perante um facto objectivo: no decurso dos motins, vários autocarros foram incendiados por grupos de indivíduos «negros», como retaliação pela morte de Odair Moniz; a todos os condutores desses autocarros foi permitido abandoná-los em segurança, com excepção de Tiago Cacais, que foi, segundo diz, queimado intencionalmente; Tiago Cacais é «branco» e os restantes condutores são «negros».

Decorreram cerca de quinze dias desde a transmissão da entrevista na TVI.

Os profissionais do «anti-racismo» não tomaram posição, nem fizeram qualquer manifestação. Os políticos que costumam cavalgar a onda do «anti-racismo», também não. Em flagrante contraste com o alarido que fizeram aquando da morte de Odair Moniz, ficaram, agora, caladinhos, como nesta ocasião.

Enfim, são as intermitências de que aqui falei.