O MEU MONTE
Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha. (Victor Hugo)
2025-03-27
Imigração e criminalidade – A importância da recolha e tratamento de dados
2025-03-25
Sentimentos
2025-02-15
No room for firewalls
Ontem, na Conferência de Segurança de Munique, o Vice-Presidente dos EUA, J. D. Vance, proferiu um discurso memorável. Foi o discurso certo, no local certo, dirigido aos alvos certos.
Começou por
salientar que a maior ameaça à segurança da Europa não vem da Rússia, da China,
ou de outro actor externo, mas de dentro de si própria, e traduz-se no retrocesso
dos valores democráticos que nela se verifica.
Desenvolvendo
esta ideia, J. D. Vance recordou, às elites políticas europeias, coisas
elementares sobre o que é a democracia.
A saber:
Sem
liberdade de expressão, não há democracia.
Sem
liberdade de imprensa, não há democracia.
Democracia
não é compatível com a perseguição de cidadãos por delitos de opinião.
Democracia
não é compatível com o cancelamento de eleições quando o resultado destas não
agrada ao poder político instalado, como aconteceu recentemente na Roménia e um
antigo comissário europeu ameaçou que poderá acontecer na Alemanha dentro de
uma semana.
As elites
políticas europeias não podem divorciar-se dos povos europeus, nem ter medo
deles.
Não tem
legitimidade democrática quem censura a opinião política divergente e põe os
seus opositores na prisão, sejam estes o líder de outro partido, um cidadão que
expressa a sua opinião ou um jornalista que pretende fazer o seu trabalho.
Democracia
não é compatível com o cancelamento de partidos políticos, ou com «cordões sanitários» em torno de
partidos políticos que recebem votos tão legítimos quanto os dos restantes.
A imigração
em massa de pessoas não europeias, fomentada pelas elites políticas europeias
sem legitimação popular, constitui uma ameaça aos povos da Europa.
Enfim, uma enorme pedrada no charco, a que deu gosto assistir.
A comunicação social sistémica diz que J. D. Vance veio à Europa para a atacar. Nada disso. Aquilo que senti foi um abraço de J. D. Vance aos povos europeus. O que deixou as elites políticas europeias furiosas.
2025-02-01
Imigração e criminalidade – Quem tem medo da verdade?
A razão do enorme incómodo que o tema da
possibilidade de estabelecimento de uma relação entre a vaga de imigração que
actualmente se verifica em vários países da Europa ocidental e o aumento da criminalidade
provoca a algumas pessoas é, evidentemente, o seu melindre político. Se se
concluísse que aquela relação existe, seria questionada, com argumentos
acrescidos, a política que tem sido seguida em Portugal em matéria de imigração
nos últimos anos. Na hipótese contrária, ruiria parte importante do
argumentário de quem critica tal política, pugnando por uma outra, mais restritiva.
Não há como fugir a isto.
Não obstante, o elefante permanece no meio da sala.
Também não há como continuar a fazer de conta que ele lá não está.
O tema tem, pois, de ser abordado, mas
no plano próprio: o da análise objectiva da realidade criminal actual em
Portugal. Esta emergência convoca todos aqueles que possam dar um contributo
válido para a discussão. Sem preconceitos, seja em que sentido for. Só pode
adquirir conhecimento quem a tanto se dispõe. Para tanto, não pode iniciar o
percurso com preconceitos. O pré-entendimento que cada um tenha terá de ceder
perante factos que não o corroborem. E a disponibilidade para aceitar seja que
conclusão for tem de ser total. Sem isto, não é possível um debate sério sobre
o tema.
Quantos estariam dispostos a fazê-lo? A
entrar no jogo de forma séria, predispondo-se a aceitar o resultado, qualquer
que ele seja? Era isso que eu gostaria de saber.
Na arena política, aquilo que vejo, de
um e outro lado, é gente entrincheirada e de armas apontadas ao inimigo. À mínima
oportunidade, disparam. Afinal, dificilmente poderia ser de outra maneira. A
política é o que é. Não é, seguramente, a sede própria para o debate que se
impõe.
A academia seria, em princípio, o palco privilegiado para se investigar esta temática e debater desapaixonadamente os resultados dessa investigação. É também para isso que existem universidades. Mais, é essencialmente isso que distingue uma verdadeira universidade de uma simples escola.
Interrogo-me, porém, sobre se a academia se encontra, hoje, em
condições de o fazer. Concretamente, se o acolhimento de um estudo que
concluísse que a vaga de imigração que, nos anos mais recentes, se abateu sobre
Portugal, vem determinando um aumento da criminalidade, seria idêntico ao de um
outro que chegasse à conclusão oposta. Duvido muito. Duvido mesmo muito.
2025-01-26
Valores de Portugal? Cultura de Portugal? Não sei o que é, nunca ouvi falar…
Ana Catarina Mendes, deputada do Partido Socialista no Parlamento Europeu, em entrevista à SIC-Notícias no dia 24.01.2025:
«Eu
não sei o que é isto dos valores nacionais, dos valores de Portugal, da cultura
de Portugal.
Eu
sei o que é o artigo 15.º da Constituição da República Portuguesa, que diz que
os cidadãos estrangeiros têm os mesmos direitos e os mesmos deveres.
Eu
sei o que é o respeito pelos direitos humanos, em que todos nós devemos ter.
Eu
sei o que é o respeito por um Estado de Direito, onde a lei se aplica e é igual
para todos, sejam nacionais, sejam estrangeiros.
Portanto,
essa ideia de aculturação é uma ideia perigosa da direita.»
Não podia deixar de guardar esta pérola no Meu Monte, para memória futura.
2025-01-20
A «Reforma Penal Casa Pia» segundo o Director Nacional da Polícia Judiciária
Uma parte interessante desta intervenção do Director Nacional da Polícia Judiciária foi omitida pelos jornais. Transcrevo-a:
«Eu
apanhei, como director, no início da minha carreira como dirigente, o «Código
de Processo Penal Pós Casa Pia», 15 de Setembro de 2007, em que se levou à libertação
de muita gente, e que, a partir daí, 2008, 2009, foram anos de grande
actividade criminosa violenta.
Eu vou apenas dizer aqui os números, desde 2005:
2005:
15.000 crimes. 2006: 13.000-14.000. 2010: 24.500 crimes violentos. 2011:
24.000. Depois, começou a baixar, até que andamos agora na ordem dos 12, 13,
14.000.»
Como director de uma polícia, Luís Neves sabe bem do que fala. Escrevi, em devido tempo, acerca dos mais que previsíveis efeitos negativos da malfadada «Reforma Penal de 2007», também conhecida, por razões óbvias, por «Reforma Penal Casa Pia», (link 1, link 2, link 3, link 4, link 5). Não me enganei nessas previsões.
2025-01-18
A intervenção do Director Nacional da Polícia Judiciária
A intervenção do Director
Nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, numa conferência ontem realizada, vem
merecendo enorme destaque em todos os canais de televisão e jornais nacionais.
Transcrevo a notícia da LUSA:
O diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, afirmou esta
sexta-feira que o sentimento de insegurança é gerado pelo aumento da
desinformação e ameaças híbridas, salientando que os números de criminalidade
violenta desmentem essa ideia.
Falando em Lisboa na conferência sobre os 160 anos do Diário de Notícias,
subordinado ao tema "O Portugal que temos e o que queremos ter", Luís
Neves criticou a imagem de que o país está numa situação "sem rei e sem
roque" no que à segurança diz respeito, contestando a "polarização da
discussão" em torno do tema, arrancando aplausos da plateia.
"Estamos a assistir a um momento de desinformação, 'fake news' e
ameaças híbridas e é isso tudo que leva a fundamentar a perceção de
insegurança", afirmou o dirigente, colocando também a responsabilidade nos
media por esse sentimento.
"Temos hoje vários canais de televisão que passam uma e outra vez
aquilo que é notícia de um crime", explicou, reconhecendo que isso vem
"criar uma ideia de insegurança que não tem a ver com a insegurança plena
do crime" existente do ponto de vista estatístico.
Luís Neves lembrou os "ataques aos ATM com explosivos" ou o
"programa posto de abastecimento seguro", criado por causa dos
assaltos existentes.
"Alguém se recorda dos anos 80 e 90 do consumo de heroína em que não
havia família que não tivesse um familiar que tivesse sofrido?" Ou
"Arroios e Intendente em que não se poderia lá entrar?" -- questionou
o diretor da PJ, acrescentando ainda: "Querem comparar esses períodos com
o período que hoje em que vivemos e dizer que hoje é que é mau?"
Luís Neves recordou números de 2009, quando se verificaram 888 ataques a
carinhas de segurança e transportes de valores, bancos ou postos de
combustíveis.
"Hoje não temos 4% desses ataques", disse.
Hoje, o motivo para a detenção - cumprimento de pena ou prisão preventiva -
tem como crime mais comum o furto simples e qualificado, seguido da violência
doméstica, explicou o dirigente da PJ, que também recusou a ideia de que os
estrangeiros sejam responsáveis por níveis relevantes de criminalidade.
"Em 2009 tínhamos 631 estrangeiros" num universo de 400 mil
imigrantes e no ano passado, perante mais de um milhão de estrangeiros
residentes em Portugal, o "rácio de detidos é o segundo mais baixo"
desde que há este tipo de contabilidade, explicou.
Sobre os estrangeiros e a criminalidade, Luís Neves distinguiu os casos que
estão relacionados com "organizações criminosas transnacionais, cibercrime
ou estupefacientes", bem como "criminalidade contra o
património" que tem conexões internacionais.
"Não são imigrantes" os envolvidos nesses casos, explicou,
salientando ainda que Portugal é porta de entrada da UE para quem vem da
América Latina e África e as prisões portugueses refletem a presença de
"mulas" de transporte de droga que, normalmente, "são pessoas
pobres".
"Prendemos por ano [este tipo de casos] às dezenas e às vezes às
centenas", explicou.
Olhando para os detidos em Portugal, Luís Neves salientou que, excluindo os
oriundos de países europeus, africanos e latino-americanos – que estão
relacionados com crimes que nada têm a ver com imigrantes –, os valores são
muito baixos.
Nas prisões portuguesas há 120 pessoas de países asiáticos num universo de
mais de 10 mil reclusos, explicou.
"Qualquer número de crime é um número preocupante e é um número que
nos faz a todos pensar quais são os melhores modelos para mitigarmos" a
criminalidade, em particular a criminalidade violenta, salientou ainda.
Confrontado por jornalistas, o diretor da PJ admitiu que é necessário
controlar quem está cá: "os Estados de receção dos imigrantes têm o
direito e, mais do que o direito, têm a obrigação de saber quem cá está, porque
sabendo-se quem cá está, as políticas públicas de integração e todas as outras
que são instrumentais ou adjacentes a essa integração ficam beneficiadas",
bem como o "próprio imigrante".
Este tipo de pessoas "muitas vezes é vítima das garras dos traficantes
de pessoas, dos tráficos de seres humanos, das organizações criminosas e da
imigração ilegal", afirmou.
E com informação atualizada, essas redes "deixam de ter área para
explorar estas pessoas", acrescentou.
O Director Nacional da Polícia Judiciária não é uma pessoa qualquer. Pela natureza da sua função, é uma das pessoas com acesso a mais e melhor informação acerca da criminalidade em Portugal. Certamente por isso, as suas declarações estão a ser divulgadas, não como mera opinião, mas como fonte da verdade sobre aquele tema e prova de que, quem afirma que Portugal enfrenta sérios problemas em matéria de criminalidade, ou tenta estabelecer alguma conexão entre esta e a actual vaga de imigração, está errado. Parece que nem sequer vale a pena voltar a falar de qualquer destes assuntos: a verdade foi dita e nada mais há a fazer que aceitá-la.
Não é assim. Algumas das afirmações
atribuídas pela comunicação social ao Director Nacional da Polícia Judiciária são,
no mínimo, discutíveis. Servirão de mote para algumas notas que aqui irei inserindo,
à medida que, para tanto, tenha oportunidade. Hoje, fica apenas o registo do
acontecimento.
Imigração e criminalidade
Para combater a
criminalidade, nas suas múltiplas vertentes, todos os dados a ela referentes
são preciosos, sem excepção. Não se pode combater aquilo que não se conhece.
Quanto maior for esse conhecimento, mais eficaz poderá ser a acção. É assim com
a criminalidade, como o é com a restante realidade. A ignorância nunca trouxe
benefícios.
A este propósito, aqui lamentei, em 2007, 2008, 2011
e 2012 (link 1, link 2, link 3, link 4, link 5), a escassez de estudos sobre criminalidade em
Portugal. Tal escassez persiste. E, o pouco que há, não tem a divulgação que
merece, atenta a importância do tema.
Porém, não nos limitámos a não melhorar
naquilo em que já estávamos mal. Num aspecto, piorámos deliberadamente ao longo
dos últimos anos. Passámos do «não sei»
para o «não sei, nem quero saber».
Alguns, vão mesmo mais longe: não sabem, não querem saber, terão eventualmente
raiva a quem sabe e, seguramente, têm muita raiva a quem quer saber.
Tenho, obviamente, em vista um dos «temas proibidos» pelos novos «polícias da palavra», herdeiros não assumidos dos cavalheiros do lápis
azul do tempo do Estado Novo: se é possível estabelecer uma relação entre as
vagas de imigração que têm assolado vários países da Europa ocidental nos anos
mais recentes, nomeadamente Portugal, e a criminalidade.
Trata-se de uma temática
importantíssima, que não pode ser varrida para debaixo do tapete, seja procurando
silenciar quem a pretenda conhecer desatando imediatamente a chamar-lhe «xenófobo», «racista», «fascista», «extremista» e outros «projécteis verbais» que essa gente tem
sempre na ponta da língua, pronta para disparar sobre quem com ela não faça
coro, seja tentando «arrumar» sumariamente
a questão com fundamentação tão «ao lado»
que devia envergonhar quem a ela recorre. A questão coloca-se
inexoravelmente. Não é possível continuar a ignorar o elefante no meio da sala.
2025-01-15
Azares
Há cerca de 15 dias, durante um debate
que decorria na CNN Portugal, no preciso momento em que garantia, de forma
enfática e repetitiva, que Portugal é um país sem problemas de segurança, Fabian
Figueiredo, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, foi interrompido pela
moderadora, para um «CNN Alerta».
Tinha acabado de ocorrer este tiroteio.
Azar dos Távoras, pensei eu.
Do ponto de vista de Fabian Figueiredo, foi a notícia mais inconveniente
possível no momento mais inoportuno possível. Pior, não podia ser. Deve ter
sido doloroso para quem acompanha a narrativa de que Portugal é um país sem
problemas de criminalidade e foi, seguramente, cómico para quem, como eu,
considera tal narrativa ridícula.
No domingo passado, novo
azar.
Na véspera, realizara-se, em
Lisboa, uma manifestação rotulada como sendo «contra o racismo e a xenofobia», mas que, na realidade, foi contra
a «operação especial de prevenção
criminal» realizada pela PSP na Rua do
Benformoso no dia 19.12.2024 (link). Muito se gritou contra esta operação,
contra a ideia de que existam particulares problemas de criminalidade nessa
zona que a justifiquem, contra os métodos utilizados pela PSP, considerados
como desproporcionais. E lá veio a recorrente acusação de que a actuação da PSP
foi racista e xenófoba, por ter visado, especificamente e sem qualquer
justificação, uma comunidade imigrante.
Menos de 24 horas depois dessa manifestação, na mesmíssima Rua do
Benformoso, ocorreu um confronto entre dois grupos de imigrantes de origem
asiática, no decurso do qual foram usadas armas brancas e barras de ferro. Sete
feridos. Um desses imigrantes foi esfaqueado nas costas, outro nas pernas. Houve ainda dentes
partidos e cortes na cabeça. Por aquilo que se vê em imagens divulgadas na
internet, foi um pandemónio.
A alegadamente racista e xenófoba PSP interveio na sequência de pedido de
socorro de alguns dos agredidos, tendo-se deslocado, em peso, para aquela rua, com
vista a manter a segurança de pessoas e bens.
Mais uma dolorosa coincidência, aparentemente. Azar dos azares, nem 24
horas tinham decorrido sobre uma manifestação tão bonita, tão progressista, tão
paz e amor, tão cravos vermelhos, as supostas vítimas da racista e xenófoba
repressão policial engalfinharam-se em agressões mútuas, ao ponto de haver
feridos graves, assim corroborando a necessidade e a proporcionalidade desta operação.
Foi obra do diabo, só pode!
Só que não. Na realidade, estamos perante um aumento exponencial, nos
últimos tempos, da probabilidade de cenas como as de Viseu ou da Rua do
Benformoso ocorrerem. Aquilo que, há 20 ou 30 anos atrás, ocorria
esporadicamente, ocorre hoje constantemente. Difícil é haver um dia sem uma ou
mais ocorrências dessa natureza. Na zona do Martim Moniz, têm sido às dezenas
nos últimos meses.
Pelo que coincidências como as duas que apontei não são mero fruto do
azar. Tornaram-se, sim, muito mais prováveis. Demasiadamente prováveis.
Portugal enfrenta, efectivamente, seríssimos problemas em matéria de
criminalidade. A persistência da narrativa negacionista apenas adiará o início da resolução
do problema e torná-la-á mais dolorosa. Tal narrativa será, com cada vez maior
frequência, atropelada pela realidade. Foi o que aconteceu a Fabian Figueiredo
e aos manifestantes do passado domingo.
2025-01-09
Espécies protegidas e espécies a abater
Um dos aspectos em que a auto-censura
jornalística foi «incentivada» pela
Resolução do Conselho de Ministros n.º 63-A/2007 é, como aqui vimos,
a nacionalidade dos suspeitos da prática de crimes.
Não se percebe porquê, sabido, como é,
que, pelo que vou ouvindo a quem considera que o caos migratório que se vem verificando
em Portugal nos anos mais recentes é benéfico para os portugueses, está
demonstrado, por todos os estudos feitos sobre migrações por esse mundo fora, que a imigração, mais que
não provocar um aumento da criminalidade nas áreas receptoras, até a diminui,
devido ao desejo dos imigrantes de se integrarem o melhor e mais rapidamente
possível. Se isto for realmente assim, qual é a razão do medo de ver divulgada
a nacionalidade daqueles suspeitos?
Seja como for, certo é que canais de
televisão e jornais acataram o «incentivo»
à auto-censura feito pela referida Resolução do Conselho de Ministros n.º
63-A/2007 e reforçado por actos mais discretamente praticados pelo poder
político desde então. Paulatinamente, as notícias foram deixando de mencionar a
nacionalidade dos suspeitos da prática de crimes.
Porém, com excepções.
Quando o suspeito tem nacionalidade
portuguesa e a natureza ou as circunstâncias do crime possam, ainda que
remotamente, sugerir que essa nacionalidade seja estrangeira, muitos
jornalistas apressam-se a mencionar que o suspeito é português, sem mais. O que
leva boa parte do público a deduzir que, quando isso não acontece, o suspeito é
estrangeiro.
Por outro lado, a nova censura parece
não abranger algumas nacionalidades estrangeiras. Quando o estrangeiro não
pertence a uma das «espécies protegidas»,
é seguro que a sua nacionalidade será mencionada e, mesmo, realçada nas
notícias.
Tivemos um exemplo disto no Verão
passado:
-
«Ex-militar espanhol tenta violar jovens em Portalegre. Vítimas foram atingidas
a tiro durante fuga»
(Correio da Manhã de 07.08.2024);
-
«Os contornos (macabros) do crime em Castelo de Vide: jovens amarradas e
baleadas por espanhol»
(SIC Notícias, 07.08.2024);
-
«Espanhol que tentou violar e matar duas jovens em Castelo de Vide fica em
prisão preventiva»
(CNN, 08.08.2024);
-
«Espanhol preso por ataque em Castelo de Vide tem cadastro por duplo homicídio
e violação» (Jornal de
Notícias de 09.08.2024);
«Ex-militar
espanhol que sequestrou duas jovens em Castelo de Vide fica em prisão
preventiva» (Diário de
Notícias de 09.08.2024).
Mais comedido, o Observador de
07.08.2024 não realçava a nacionalidade do suspeito no título da notícia,
limitando-se a mencioná-la no corpo desta:
-
«Castelo de Vide: suspeito de tentar matar e violar jovens fica em prisão
preventiva.
O
homem de nacionalidade espanhola suspeito da autoria dos disparos de caçadeira
contra duas jovens, junto a uma barragem em Castelo de Vide, vai ficar a
aguardar julgamento em prisão preventiva.»
Perante isto, não há dúvida de que, para
muito do jornalismo que actualmente se faz em Portugal, há, em matéria de
nacionalidade dos suspeitos da prática de crimes, «espécies protegidas» e «espécies
a abater». Os pobres dos espanhóis fazem parte das segundas. Se as notícias
a que correspondem os títulos acima transcritos induzirem comportamentos
xenófobos, azar o deles.