A polémica gerada pela
recente «operação
especial de prevenção criminal»
realizada na zona do Largo de Martim Moniz vai de vento em popa.
De um lado, estão aqueles que consideram que Portugal está com problemas
muito sérios em matéria de criminalidade e, coerentemente, afirmam que a
operação realizada no Martim Moniz tem inteira justificação e que operações
dessa natureza devem realizar-se com regularidade.
Do lado oposto, estão aqueles que consideram que Portugal é um país
seguro, sem problemas em matéria de criminalidade, e que, também coerentemente,
afirmam que operações como aquela que foi realizada no Martim Moniz carecem de
justificação. Afirmam também que a operação realizada no Martim Moniz visou
causar danos a determinada comunidade de imigrantes, mas trata-se de uma
acusação tão ridícula, que a deixarei fora da equação.
No meio, estão aqueles que, considerando embora que Portugal é um país
seguro em matéria de criminalidade, sustentam a necessidade da realização
regular de operações policiais daquela natureza. A coerência deste
posicionamento não é tão patente quanto a daqueles que acima foram descritos,
mas não é difícil de fundamentar: estamos bem em matéria de criminalidade, mas,
para assim continuarmos, devemos tomar medidas preventivas, sendo uma delas a
realização de operações semelhantes àquela que teve lugar no Martim Moniz.
Para mim, é evidente que a razão está do lado dos primeiros. Portugal
enfrenta problemas muito sérios em matéria de criminalidade, com tendência para
piorarem muito rapidamente, nomeadamente com o surgimento, cada vez mais
frequente, de situações de pontual descontrolo. Os motins ocorridos no passado
mês de Outubro constituíram o mais recente alerta de que Portugal e, em
particular, a sua capital, vivem sobre um verdadeiro barril de pólvora, pronto
para explodir assim que surja uma fonte de ignição, como foi o caso da morte de
Odair Moniz. Fazer de conta que está tudo bem em matéria de criminalidade
constitui, por isso, um fenómeno de negacionismo, como aqui afirmei.
Curiosa é, no meio desta polémica, a acesa confrontação entre
negacionistas. Todos jurando, a pés juntos, que Portugal é um dos países mais
seguros do mundo em matéria de criminalidade, mas preconizando políticas
diametralmente opostas. Como pano de fundo, uma realidade que diariamente
desmente todos eles, como foi o caso do tiroteio há dias ocorrido em Viseu.