2005-10-05

Apresentação

Logo que ingressei na Magistratura Judicial – tomei posse, como Juiz de Direito auxiliar na Comarca de Loures, em 31.05.1995, após ter terminado o estágio –, apercebi-me de uma das regras básicas para aí se estar: CALAR.
Calar quando nos faltavam as mais básicas condições de trabalho.
Calar quando a quantidade de trabalho a nosso cargo excedia, em muito, as nossas humanas capacidades.
Calar quando era patente que o sistema não funcionava.
Calar quando cada medida tomada para resolver os problemas da Justiça, afinal, não resolvia coisa alguma.
Calar quando fossemos injustiçados internamente.
Calar quando fossemos atacados externamente.
Calar, não fazer ondas, tentar passar despercebido, ir sobrevivendo…
E muito cuidadinho com o nosso dever de reserva! Na dúvida, o melhor era não dizer coisa alguma.
O tempo passou.
Muitas coisas aconteceram entretanto.
Hoje, a Justiça está como todos sabemos. Nem vale a pena entrar em descrições.
E hoje, pergunto: Fizemos bem, como Juízes e como cidadãos, em calar?
Parece-me óbvio que não.
Nas actuais circunstâncias, calar, mais do que consentir, é capitular.
Daí a criação deste blog.
Não tenho a pretensão de o mesmo vir a ser muito frequentado.
Corro, até, o risco de ficar a falar sozinho.
Mas, ainda que isso aconteça, prefiro falar sozinho a continuar a calar acompanhado.